Para sempre estrangeira

--

Há vinte anos me tornei estrangeira antes mesmo de sair do Brasil pela primeira vez. O idioma é o mesmo, mas o meu falar causa estranheza. Meus traços denunciam que eu não sou daqui. Adotei outro sotaque, outras interjeições e outros substantivos para me adequar. Apesar disso, continuo sendo estrangeira, e quando esqueço que sou alguém vem e faz questão de me lembrar. Ser estrangeira na cidade em que se vive é sentir-se sempre como um alfinete tendo que furar bolhas. E tem bolhas que eu nunca vou conseguir furar.

--

--

Emilly Garcia | Escritora

Jornalista, escritora, teacher. From Pará. Adora um rolê de bike e um barzinho pra jogar papo fora. Um dia ainda vai escrever um livro. Talvez dois.